quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Casos e Frases 1 - Meu primeiro vôo de instrução.


Aquela manhã prometia, e ao chegar no aeroclube da Ilha de Itaparica (SNVR), o meu coração estava disparado com a realização de um sonho, de um desejo e de muita expectativa acumulada há vários anos. A minha primeira visão foi daquele sujeitinho com cara de estrangeiro que tinha alguma coisa de diferente, e que hoje acredito, era alma de brasileiro.

Novinho, nariz em pé, todo vermelhinho e com faixas brancas nas suas laterais, ainda meio sujo pelo trabalho anterior, carregava um nomezinho atraente, de “Aero Boero”.

Nome este que parecia dar as boas vindas, a nós, iniciantes.


Era um avião, trazido da Argentina para instrução primária, e para substituição aos velhos e bons Paulistinhas, no preparo dos novos sonhadores, em aeroclubes espalhados pelo país. E mesmo com a reprovação de muitos na época, para nós, meros sonhadores, aquela visão nos parecia a de que iríamos pilotar, Jatos F14 da marinha americana, como viamos naqueles filmes de época e que nos faziam sonhar, como: “Nimitz de volta para o inferno”.

Não via a hora de ligar aquela “turbina”, digo motorzinho, mas meu instrutor aumentou ainda mais a minha ansiedade, quando me chamou para um briefing na sala de instrução. E esta pequena explanação, do que seria aquele primeiro dia e os vários outros próximos, parecia uma eternidade.

Não via a hora de iniciar.

Já tinha voado em muitos aviões e por inúmeras vezes, pois tenho um irmão que já tinha realizado seu sonho, e já trabalhava na aviação fazia algum tempo.

Mas, antes... eu..., era apena um passageiro.

O briefing acabou e voltamos, eu e o instrutor, para o hangar e de novo para a visão que eu mais queria ter. Só que, sempre surgia mais uma espera, e que naquele momento incluia uma minuciosa instrução e apresentação do aviãzinho, além de uma demorada inspeção pré-voo, sem falar do abastecimento.

Nunca esquecerei aquele prefixo, PP-GEF.

Tudo pronto e entrando no pequeno cockpit, sinto pela primeira vez o cheiro e o sabor do meu sonho.

Gasolina de aviação para todo lado.

Inicio com os checlists cobrados pelo instrutor, com rigor em todos os vôos que fiz em instrução. E chega a hora do acionamento. Naquele momento, passei do estado de ansiedade a que eu estava para uma calma e um bem estar que nunca tinha sentido na vida.

Nunca esquecerei...!

Então começo: bateria ligada; magnetos na posição de ligados; efetuei três bombeadas na manete de potência para injetar combustível; Mistura toda rica, através da manete de mistura toda afrente; freios acionados atarvés do pedalzinho por detrás do pedal do leme; verifiquei se a área do hélice estava livre e finalmente aciono a partida.

Sem muita cerimônia o motorzinho de 115HP pegou com facilidade. Senti um arrepio pela minha coluna, pois ali começava a realização de um sonho tão esperado.

Após a autorização do instrutor, inicio o taxi até a posição dois, aonde efetuei o check dos magnetos, o check de corte, o briefing de decolagem, além da verificação do tráfego ao redor do aeroclube. Este taxi, em um aviãozinho de instrução e trem convencional com bequilha louca, é feito e forma de um “S” para poder enxergar bem a frente e com as curvas comandadas utilizando-se o freio independente, esquerdo e direito.

E posso lhes dizer, que foi uma luta. Mas...,mas..., cheguei lá com muita ajuda do instrutor!

Já na pista, a primeira decolagem é feita pelo instrutor com o aluno, que era "eu", seguindo todos os seus passos, mantendo a mão nos comando e o acompanhando.

Nossa..., que sensação!
Nossa..., que sensação!

Eu estava voando como piloto..., digo como aluno em instrução para piloto e subindo em linha reta até nivelar. Foi quando o instrutor disse: “o comando é todo seu”. Paralisei, e juntou um misto de medo, euforia, prazer, desejo, frio, calor, fome... e... e..., tudo mais que queiram imaginar.
Então surge, no meio de toda esta senssação, a primeira pegadinha por parte do instrutor. Ele me mandou abaixar a cabeça, fechar os olhos e após algum tempo, levantar a cabeça e olhar para frente e para fora do avião.

Menino...
fiquei super desorientado...
o café da manhã queria sair pela boca...
o estomago ficou acima do coração...
vi estrelas e quase fiz o "Raul" voltar a vida.

E ai ele me perguntou: “Você sabe aonde estava a pista?”

Não vou mentir... Chutei... E por pura sorte, acertei. Ela estava detrás de nós.

Daí para frente o instrutor, me pediu para efetuar inumeras curvas, iniciando a instrução, coordenação de comandos, além de inúmeras subidas e descidas.

Ufa...!

Nunca suei tanto...

E “finalmente”, fomos para o pouso, que foi feito pelo instrutor, com o meu acompanhamento dos comandos.

“Finalmente no solo”. 

E toda a ansiedade do começo, estava agora, concentrada no meu estomago, que com o cheiro da gasolina e o cheiro dos gases do escapamento, novamente convidavam a ressuscitação do meu café da manhã.

Mas..., segurei firme!

Paramos na frente do hangar e apesar de ter tido a maior felicidade da minha vida, eu tinha que convencer ao meu estomago que não estava sentindo mais nada, além de pura felicidade.

Sim, estava muito, e muito feliz!

E como o começo do meu dia, tiverá sido a minha primeira visão, aquele "argentininho", fiz questão que esta fosse a minha ultima visão do dia, dentro daquele hangar.

Um dia muito especial.

Sei que como eu, muita gente ainda tem e terá boas lembranças deste aviãozinho, chamado "Aero Boero"...., ou no meu entendimento e na minha tradução do nome "Aero Boero"...

“o que dar as boas vindas”.

Dali para frente, sem meu estomago reclamar, muto..., foram mais 34 horas até o meu primeiro vôo solo, e mais algumas hora para o dia do meu brevê de Piloto privado.

Bons vôos!

4 comentários:

Anônimo disse...

Lembrou meu primeiro voo.

Maré disse...

Poxa Laíres, vc me fez lembra aquela época maravilhosa que passamos durante o curso....PP-GEF, que iria esquecer...valeu irmão pela lembrança deste momento ímpar do primeiro voo, que a sensação só sabe quem já passou.


Fui

riva disse...

Irmão, lembra que já voei com voce no aero boero?
Adorei o texto

Riva

Anônimo disse...

Simplesmente, emocionante!
Acabei de fazer o voo contigo.
Ufa...