Aquela manhã prometia, e ao chegar no aeroclube da Ilha de Itaparica (SNVR), o meu coração estava disparado com a realização de um sonho, de um desejo e de muita expectativa acumulada há vários anos. A minha primeira visão foi daquele sujeitinho com cara de estrangeiro que tinha alguma coisa de diferente, e que hoje acredito, era alma de brasileiro.
Novinho, nariz em pé, todo vermelhinho e com faixas brancas nas suas laterais, ainda meio sujo pelo trabalho anterior, carregava um nomezinho atraente, de “Aero Boero”.
Nome este que parecia dar as boas vindas, a nós, iniciantes.
Era um avião, trazido da Argentina para instrução primária, e para substituição aos velhos e bons Paulistinhas, no preparo dos novos sonhadores, em aeroclubes espalhados pelo país. E mesmo com a reprovação de muitos na época, para nós, meros sonhadores, aquela visão nos parecia a de que iríamos pilotar, Jatos F14 da marinha americana, como viamos naqueles filmes de época e que nos faziam sonhar, como: “Nimitz de volta para o inferno”.
Não via a hora de ligar aquela “turbina”, digo motorzinho, mas meu instrutor aumentou ainda mais a minha ansiedade, quando me chamou para um briefing na sala de instrução. E esta pequena explanação, do que seria aquele primeiro dia e os vários outros próximos, parecia uma eternidade.
Não via a hora de iniciar.
Já tinha voado em muitos aviões e por inúmeras vezes, pois tenho um irmão que já tinha realizado seu sonho, e já trabalhava na aviação fazia algum tempo.
Mas, antes... eu..., era apena um passageiro.
O briefing acabou e voltamos, eu e o instrutor, para o hangar e de novo para a visão que eu mais queria ter. Só que, sempre surgia mais uma espera, e que naquele momento incluia uma minuciosa instrução e apresentação do aviãzinho, além de uma demorada inspeção pré-voo, sem falar do abastecimento.
Nunca esquecerei aquele prefixo, PP-GEF.
Tudo pronto e entrando no pequeno cockpit, sinto pela primeira vez o cheiro e o sabor do meu sonho.
Gasolina de aviação para todo lado.
Inicio com os checlists cobrados pelo instrutor, com rigor em todos os vôos que fiz em instrução. E chega a hora do acionamento. Naquele momento, passei do estado de ansiedade a que eu estava para uma calma e um bem estar que nunca tinha sentido na vida.
Nunca esquecerei...!
Então começo: bateria ligada; magnetos na posição de ligados; efetuei três bombeadas na manete de potência para injetar combustível; Mistura toda rica, através da manete de mistura toda afrente; freios acionados atarvés do pedalzinho por detrás do pedal do leme; verifiquei se a área do hélice estava livre e finalmente aciono a partida.
Sem muita cerimônia o motorzinho de 115HP pegou com facilidade. Senti um arrepio pela minha coluna, pois ali começava a realização de um sonho tão esperado.
Após a autorização do instrutor, inicio o taxi até a posição dois, aonde efetuei o check dos magnetos, o check de corte, o briefing de decolagem, além da verificação do tráfego ao redor do aeroclube. Este taxi, em um aviãozinho de instrução e trem convencional com bequilha louca, é feito e forma de um “S” para poder enxergar bem a frente e com as curvas comandadas utilizando-se o freio independente, esquerdo e direito.
E posso lhes dizer, que foi uma luta. Mas...,mas..., cheguei lá com muita ajuda do instrutor!
Já na pista, a primeira decolagem é feita pelo instrutor com o aluno, que era "eu", seguindo todos os seus passos, mantendo a mão nos comando e o acompanhando.
Nossa..., que sensação!
Nossa..., que sensação!
Eu estava voando como piloto..., digo como aluno em instrução para piloto e subindo em linha reta até nivelar. Foi quando o instrutor disse: “o comando é todo seu”. Paralisei, e juntou um misto de medo, euforia, prazer, desejo, frio, calor, fome... e... e..., tudo mais que queiram imaginar.
Então surge, no meio de toda esta senssação, a primeira pegadinha por parte do instrutor. Ele me mandou abaixar a cabeça, fechar os olhos e após algum tempo, levantar a cabeça e olhar para frente e para fora do avião.
Menino...
fiquei super desorientado...
o café da manhã queria sair pela boca...
o estomago ficou acima do coração...
vi estrelas e quase fiz o "Raul" voltar a vida.
E ai ele me perguntou: “Você sabe aonde estava a pista?”
Não vou mentir... Chutei... E por pura sorte, acertei. Ela estava detrás de nós.
Daí para frente o instrutor, me pediu para efetuar inumeras curvas, iniciando a instrução, coordenação de comandos, além de inúmeras subidas e descidas.
Ufa...!
Nunca suei tanto...
E “finalmente”, fomos para o pouso, que foi feito pelo instrutor, com o meu acompanhamento dos comandos.
“Finalmente no solo”.
E toda a ansiedade do começo, estava agora, concentrada no meu estomago, que com o cheiro da gasolina e o cheiro dos gases do escapamento, novamente convidavam a ressuscitação do meu café da manhã.
“Finalmente no solo”.
E toda a ansiedade do começo, estava agora, concentrada no meu estomago, que com o cheiro da gasolina e o cheiro dos gases do escapamento, novamente convidavam a ressuscitação do meu café da manhã.
Mas..., segurei firme!
Paramos na frente do hangar e apesar de ter tido a maior felicidade da minha vida, eu tinha que convencer ao meu estomago que não estava sentindo mais nada, além de pura felicidade.
Sim, estava muito, e muito feliz!
E como o começo do meu dia, tiverá sido a minha primeira visão, aquele "argentininho", fiz questão que esta fosse a minha ultima visão do dia, dentro daquele hangar.
Um dia muito especial.
Sei que como eu, muita gente ainda tem e terá boas lembranças deste aviãozinho, chamado "Aero Boero"...., ou no meu entendimento e na minha tradução do nome "Aero Boero"...
Sei que como eu, muita gente ainda tem e terá boas lembranças deste aviãozinho, chamado "Aero Boero"...., ou no meu entendimento e na minha tradução do nome "Aero Boero"...
“o que dar as boas vindas”.
Dali para frente, sem meu estomago reclamar, muto..., foram mais 34 horas até o meu primeiro vôo solo, e mais algumas hora para o dia do meu brevê de Piloto privado.
Bons vôos!
4 comentários:
Lembrou meu primeiro voo.
Poxa Laíres, vc me fez lembra aquela época maravilhosa que passamos durante o curso....PP-GEF, que iria esquecer...valeu irmão pela lembrança deste momento ímpar do primeiro voo, que a sensação só sabe quem já passou.
Fui
Irmão, lembra que já voei com voce no aero boero?
Adorei o texto
Riva
Simplesmente, emocionante!
Acabei de fazer o voo contigo.
Ufa...
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